24.2.09

se fui, foi por ti.


quando bati a porta da tua casa limitaste-te a apanhar os cacos do teu coração e a jogá-los no lixo.
não esperei que me abraçasses e me impedisses de sair. no fundo, eu queria que corresses atrás de mim, me agarrasses pelo braço, me gritasses e me pedisses para ficar contigo, sempre.
senti-me tentada a procurar-te apenas para ter a certeza de que estavas bem ou se, ao menos, tinhas decidido percorrer um caminho que não o nosso. mas não o fiz.
arrependes-te?
eu, sim.

data.

hoje é o meu dia. ou de todos os que estão comigo.
não tenho vontade nenhuma de festejar. precisava apenas da minha avó aqui mas sei que isso é impossível.
ainda assim, parabéns para mim.
(se soubesses o quanto sinto a tua falta...)

20.2.09

ouve-me.

tantas vezes te peço para ouvires com atenção o sussurro do meu coração. não me dás importância e ficas sempre aquém das espectativas. optas pelo vazio das conversas, pela histeria das discussões, pelo amor pouco oferecido...
eu sei que (não) te esforças e, peço-te, não tentes remediar com palavras.
fiquemo-nos pelos erros e pela comodidade?

fears.and.hope


19.2.09

exame.de.condução

chegou. o exame de condução.
meu deus, a pressão é imensa e as probabilidades de passar são tantas quantas as de reprovação.
seria muito bom "apanhar" um examinador com capacidade para aguentar os pontos de embraiagem mal feitos, as rotundas a 20 km/h, as indicações de mudança de direcção esquecidas... que sonho!
bem, se não for à primeira é à segunda ou décima, quem sabe!
PASSEI :)

tempo.

há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. é o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

permanece (s) em mim.

Prólogo

"Todos podemos controlar a dor, excepto aquele que a sente." William Shakespeare

Capítulo 1 - Foste

Partiste. O vento levou-te de mim. "Adeus." – Disseste ao bater a porta. Vi-te sair para não mais voltar. Ouvia apenas o eco das tuas pesadas passadas. Partiste. E o que ficou foram restos de ti, pedaços de nós.
Sentei-me e esperei por ti. Foram longos esses tempos, nunca mais chegavas. Vi pessoas fugirem da chuva no Inverno, vi o brilho do sol que aquecia os finais das tardes de Verão, ouvi os risos de grandes noites. Namoros começavam, namoros terminavam; corações partidos e histórias perdidas; sonhos realizados, sinceros sorrisos... Mas no fundo só estava ali à tua espera e tu nunca mais vinhas.
Eu teimava em adiantar os ponteiros do relógio para que à noite, em sonhos talvez, pudesse abrir-te as portas do meu coração e fechar-te na escuridão que o inundara desde que me deixaste. Talvez assim sentisses a sensação de abandono, o peso da tua partida quase silenciosa, em mim. Mas tu não me deixavas encontrar-te, nem no mundo do faz de conta.
O meu amor por ti e o meu apreço pelas coisas que pertenciam ao nosso mundo cegaram-me e ensurdeceram-me. Só ouvia duas coisas: a batida do meu coração e a batida do teu, que como batia a par com o meu, acabava por ser só uma. Esse costumava ser o som mais importante do nosso mundo, lembras-te? "Ouve como bate forte" – Costumavas dizer-me.
E foste-te. Hoje, para mim, os dias são apenas dias, e as noites são apenas noites. Sem ti, acordar é uma prova de esforço, viver é uma maratona de sofrimento. Porquê?

Capítulo 2 - Chegaste

A campainha tocou três vezes consecutivas.
- Santo Deus, deixem-me em paz! - De pijama vestido, abri a porta.
- Tu?!
Quase desfaleci.
Eras mesmo tu. Apenas e irremediavelmente tu. E era o meu coração também, batendo como as asas de um colibri... Não falaste mas voltaste e isso chega-me. Por enquanto. O teu abraço enorme, onde em tempos me escondia do mundo e sonhava ser feliz para sempre, alcançou-me e não tive forças suficientes para o afastar. Ou não quis fazê-lo simplesmente. Esperei por ti tempo demais. Tristes dias, pesados meses, longos anos. Mas eras tu, aqui e agora. Sabia que podias partir ou te dissolver numa nuvem de fumo denso e eu ficava sozinha de novo, abandonada outra vez.
- Onde está o meu medo?! Raios!
Quero fugir, bem tento. Mas tu sabes exactamente como me tocar, como me prender aqui. O teu perfume tão perto de mim, o teu respirar a confundir-me os sentidos... Voltaste. Voltaste para mim. Para nós, meu amor."Se colares os bocadinhos do meu coração vais ver que ele te pertence. Sempre pertenceu."

Epílogo

Sei que quando leres isto não vai fazer sentido só agora saberes como me sentia por te ter na minha vida. Perdi-te, pouco depois de te ter de volta. Julgava-te aqui para sempre mesmo que esse para sempre não existisse para um de nós. Na verdade, o facto de teres partido não é o ponto crucial da nossa história, mas sim a certeza de que continuas comigo, mesmo que incompletamente. Uni os nossos corações há muito tempo atrás e sim, é como se tivesses levado o meu contigo quando me deixaste pela segunda vez, para sempre. O fim perfeito para nós? Ele esteve perto mas escapou-nos.
Permanece (s) em mim.

esquecido.

esquecemo-nos dos passeios de bicicleta, da descontracção, do cabelo despenteado, dos outros, dos abraços, das saudades, das noites quentes, das manhãs frias e das tardes acompanhadas, das mãos dadas e das cavalitas, dos silêncios simples, de agarrar e de soltar, do sorriso espontâneo, de chapinhar nas poças, de deitar no chão e de sujar as mãos, de sentar numa esplanada, sentir o sol, ir contra o vento e cheirar o mar.esquecemo-nos, de lembrar.

sinto-te em mim, avó.

não falaste porque não podias, nem uma palavra, um gesto, um sorriso. eu percebia qualquer sinal, mas ficou o silêncio em forma de dor. não choraste porque tinhas os olhos fechados, mas eu chorei por ti e ainda choro sempre que te lembro.
a tua partida silenciosa fez chorar a noite. não eram lágrimas que se perdiam, haverão sempre lágrimas, mas eu ganhei uma dor que não fiz por merecer. às vezes chamo por ti mas apenas o silêncio me responde.
guardo dentro de mim a tua imagem, a memória daquilo que foste e de tudo o que aprendi contigo… sabes, sou hoje uma pessoa melhor e devo-o a ti. a revolta da tua partida ainda mora dentro de mim, como os dias são dias e as noites são noites. senti que te roubaram à vida num gesto brusco e cruel, nem sequer te pude olhar nos olhos e dizer-te adeus. e esse adeus perdura, vive, como a tua ausência sentida e que ainda me custa aceitar.
estejas onde estiveres sei que olhas por mim e eu guardar-te-ei sempre. existe um cantinho no meu coração que é só teu, eternamente teu.
aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós.

espera.

esperei-te. sim, porque eu esperava por ti. todos os dias e todas as noites. contava que aparecesses sem avisar, ou que avisasses até. via em ti um porto de abrigo, uma mão que me segurava sempre que as minhas pernas tremiam. queria o teu amor, apenas isso. e foi assim durante anos, longos por sinal.