19.2.09

permanece (s) em mim.

Prólogo

"Todos podemos controlar a dor, excepto aquele que a sente." William Shakespeare

Capítulo 1 - Foste

Partiste. O vento levou-te de mim. "Adeus." – Disseste ao bater a porta. Vi-te sair para não mais voltar. Ouvia apenas o eco das tuas pesadas passadas. Partiste. E o que ficou foram restos de ti, pedaços de nós.
Sentei-me e esperei por ti. Foram longos esses tempos, nunca mais chegavas. Vi pessoas fugirem da chuva no Inverno, vi o brilho do sol que aquecia os finais das tardes de Verão, ouvi os risos de grandes noites. Namoros começavam, namoros terminavam; corações partidos e histórias perdidas; sonhos realizados, sinceros sorrisos... Mas no fundo só estava ali à tua espera e tu nunca mais vinhas.
Eu teimava em adiantar os ponteiros do relógio para que à noite, em sonhos talvez, pudesse abrir-te as portas do meu coração e fechar-te na escuridão que o inundara desde que me deixaste. Talvez assim sentisses a sensação de abandono, o peso da tua partida quase silenciosa, em mim. Mas tu não me deixavas encontrar-te, nem no mundo do faz de conta.
O meu amor por ti e o meu apreço pelas coisas que pertenciam ao nosso mundo cegaram-me e ensurdeceram-me. Só ouvia duas coisas: a batida do meu coração e a batida do teu, que como batia a par com o meu, acabava por ser só uma. Esse costumava ser o som mais importante do nosso mundo, lembras-te? "Ouve como bate forte" – Costumavas dizer-me.
E foste-te. Hoje, para mim, os dias são apenas dias, e as noites são apenas noites. Sem ti, acordar é uma prova de esforço, viver é uma maratona de sofrimento. Porquê?

Capítulo 2 - Chegaste

A campainha tocou três vezes consecutivas.
- Santo Deus, deixem-me em paz! - De pijama vestido, abri a porta.
- Tu?!
Quase desfaleci.
Eras mesmo tu. Apenas e irremediavelmente tu. E era o meu coração também, batendo como as asas de um colibri... Não falaste mas voltaste e isso chega-me. Por enquanto. O teu abraço enorme, onde em tempos me escondia do mundo e sonhava ser feliz para sempre, alcançou-me e não tive forças suficientes para o afastar. Ou não quis fazê-lo simplesmente. Esperei por ti tempo demais. Tristes dias, pesados meses, longos anos. Mas eras tu, aqui e agora. Sabia que podias partir ou te dissolver numa nuvem de fumo denso e eu ficava sozinha de novo, abandonada outra vez.
- Onde está o meu medo?! Raios!
Quero fugir, bem tento. Mas tu sabes exactamente como me tocar, como me prender aqui. O teu perfume tão perto de mim, o teu respirar a confundir-me os sentidos... Voltaste. Voltaste para mim. Para nós, meu amor."Se colares os bocadinhos do meu coração vais ver que ele te pertence. Sempre pertenceu."

Epílogo

Sei que quando leres isto não vai fazer sentido só agora saberes como me sentia por te ter na minha vida. Perdi-te, pouco depois de te ter de volta. Julgava-te aqui para sempre mesmo que esse para sempre não existisse para um de nós. Na verdade, o facto de teres partido não é o ponto crucial da nossa história, mas sim a certeza de que continuas comigo, mesmo que incompletamente. Uni os nossos corações há muito tempo atrás e sim, é como se tivesses levado o meu contigo quando me deixaste pela segunda vez, para sempre. O fim perfeito para nós? Ele esteve perto mas escapou-nos.
Permanece (s) em mim.

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